Sentimentos, Conectomas e Fruição Uma Perspectiva Neuropsicológica Integrativa
Sentimentos, Conectomas e Fruição Uma Perspectiva Neuropsicológica Integrativa
Neste artigo propomos que a consciência está sempre ancorada em algum sentimento, e que os sentimentos, por sua natureza metabólica, modulam conectomas cerebrais de forma distinta em cada indivíduo. Utilizamos uma analogia lúdica de "papel, pedra e tesoura" para representar três padrões predominantes de conectoma cerebral: o Conectoma Papel (fruição e metacognição), o Conectoma Pedra (pensamento rápido, resposta instintiva) e o Conectoma Tesoura (pensamento lento, racional). Discutimos como emoções, por sua natureza bioelétrica, são disparadores de mudanças conectomais mediadas pelos sentimentos que recrutam. A restrição emocional, embora possa gerar foco, também pode limitar a plasticidade cerebral.
1. Consciência e Sentimento como Base Metabólica
A consciência não é neutra: ela está sempre sobre algum sentimento. Como propõe Antonio Damasio (1999), os sentimentos são produtos da percepção corporal de estados emocionais e constituem a base da mente consciente. Sentimentos têm natureza metabólica, com flutuações que duram minutos a horas, influenciando a disponibilidade e regulação dos circuitos cerebrais em operação.
2. Emoções como Bioeletricidade e seus Efeitos nos Conectomas
Diferente dos sentimentos, as emoções possuem duração de milissegundos a poucos segundos, com base bioelétrica e reflexos autônomos. Elas podem ser detectadas por meio de microestados de EEG (Michel & Koenig, 2018), potenciais evocados, dilatação pupilar e resposta galvânica da pele (Critchley, 2002). Emoções não apenas sinalizam mudanças, mas também são gatilhos para alterações conectomais duradouras via sentimentos subsequentes.
3. Conectomas como Modos de Operar a Mente
Cada indivíduo possui padrões dinâmicos de conexões cerebrais — os conectomas. Inspirados na dinâmica "papel, pedra e tesoura", propomos três padrões principais:
Conectoma Papel: Associado à fruição, metacognição e estado de abertura. Representa uma mente em repouso ativo, com alta capacidade de transição entre estados (Raichle, 2015). É o estado crítico para mudança de qualquer outro conectoma.
Conectoma Pedra: Corresponde ao pensamento rápido de Kahneman (2011), altamente responsivo e impulsionado pelas regiões somatossensoriais e amígdala. É eficiente, mas inflexível.
Conectoma Tesoura: Relacionado ao pensamento lento e deliberativo, com predomínio do córtex pré-frontal dorsolateral. Facilita a análise lógica e planejamento.
4. Emoções, Sentimentos e Flexibilidade Conectomal
A emoção, ao ser percebida, pode ativar um sentimento correspondente, alterando o conectoma dominante. No entanto, ao inibir emoções (por trauma, cultura ou treinamento), podemos reduzir o ruído emocional e ganhar foco, mas ao custo de restringir a plasticidade conectomal (Pessoa, 2008).
5. Fruição e Metacognição como Espaço de Transição
Estados de fruição e metacognição criam espaço subjetivo e sensível — o Corpo Território — onde o indivíduo se percebe em seu ambiente. Este estado favorece transições de conectomas com menor custo de energia e maior liberdade de integração subjetiva.
Conclusão
A mente consciente opera sempre sobre sentimentos, que modelam os circuitos cerebrais de forma plástica e lenta. Emoções são gatilhos elétricos para essas mudanças, e o bloqueio emocional pode tanto aumentar o foco quanto reduzir a capacidade de mudança. O Conectoma Papel, correspondente à fruição e metacognição, surge como chave crítica para manter a flexibilidade adaptativa do sistema.
Referências:
Damasio, A. R. (1999). The Feeling of What Happens: Body and Emotion in the Making of Consciousness.
Kahneman, D. (2011). Thinking, Fast and Slow.
Michel, C. M., & Koenig, T. (2018). EEG microstates as a tool for studying the temporal dynamics of whole-brain neuronal networks: A review. NeuroImage, 180, 577-593.
Critchley, H. D. (2002). Electrodermal responses: what happens in the brain. The Neuroscientist, 8(2), 132-142.
Raichle, M. E. (2015). The Brain's Default Mode Network. Annual Review of Neuroscience, 38, 433-447.
Pessoa, L. (2008). On the relationship between emotion and cognition. Nature Reviews Neuroscience, 9(2), 148-158.
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