Jackson Cionek
527 Views

Apus – A Propriocepção Estendida do Ser

Apus – A Propriocepção Estendida do Ser

Consciência em Primeira Pessoa


Sonho Bom Deputado Federal Joinville

Sonho Bom de Bem Estar no Agora


As montanhas têm corpo, e o corpo é uma montanha.
Entre os povos andinos, Apus é o espírito que habita as montanhas e mantém o equilíbrio entre o visível e o invisível.
Não é uma divindade fora do homem, mas a presença viva do ambiente que respira dentro dele.
Ser, nesse contexto, é reconhecer que o corpo é também território — uma paisagem sensível que percebe, responde e se transforma junto com o mundo.

A propriocepção é a percepção interna da posição e do movimento do corpo.
Mas o Apus, em sua versão estendida, amplia esse conceito: o corpo não percebe apenas a si mesmo, ele percebe o entorno como parte de si.
A respiração, o vento, o som e a gravidade são fluxos compartilhados — pontes entre o humano e o ambiente.
A montanha não é objeto; é o próprio corpo em repouso geológico.
E o corpo humano, por sua vez, é uma montanha em movimento.

A neurociência moderna começa a descrever, com outros nomes, o que os povos ameríndios sempre souberam.
A interocepção traduz os estados internos; a propriocepção, o movimento e a posição; e ambas, juntas, formam a base da consciência corporificada (Craig, 2023; Damasio, 2021).
Entretanto, o Apus vai além: ele representa a consciência expandida, onde corpo e ambiente são contínuos.
Não existe “fora” — apenas uma variação de densidades da mesma presença.


Quando o mundo fala nos sonhos

Durante o sono, o corpo não se desconecta do território — apenas muda de idioma.
Mesmo dormindo, seguimos em diálogo com o ambiente.
Os sons, os ventos, o gotejar da chuva, o farfalhar das folhas,
todos continuam sendo processados pelo cérebro,
mas traduzidos em símbolos compatíveis com o sonho que estamos sonhando.

Um barulho externo pode tornar-se o passo de um animal,
um trovão pode se converter em um tambor ancestral,
e o som do próprio ronco pode aparecer como um eco distante dentro da floresta onírica.
O mundo físico atravessa o mundo simbólico, e o cérebro,
em seu esforço constante de coerência, insere o ruído externo no cenário interno
(Siclari et al., 2021; Andrillon & Kouider, 2021).

O Apus, então, também é auditivo.
As montanhas respiram com nossos pulmões,
e o território segue enviando sinais mesmo quando os olhos se fecham.
Essa sensibilidade profunda é o que a neurociência contemporânea descreve como
incorporação sensorial durante o sonho,
um fenômeno no qual o sistema nervoso continua monitorando o ambiente
e integrando estímulos externos às narrativas internas do sonho
(Friston, 2022; Hobson & Friston, 2021).

O cérebro, guiado por sua predição ativa,
não ouve o som como ele é,
mas como acredita que ele deveria ser para manter o sonho coerente.
Assim, o corpo dorme — mas continua interpretando o mundo conforme suas crenças.

Esse viés, que une percepção e fé corporal, é a expressão perfeita da nossa frase central:

Percebemos o que acreditamos.

Durante o sonho, a propriocepção estendida se manifesta em plenitude:
as fronteiras entre dentro e fora se dissolvem,
e o território volta a nos ensinar, como sempre fez,
que somos respiração, som e presença do próprio mundo.


O Apus é, portanto, a dimensão sensível da reciprocidade entre corpo e ambiente.
Na biologia, poderíamos chamá-lo de acoplamento estrutural: o modo como organismos e meio se ajustam mutuamente para manter a vida (Maturana & Varela, 2021; Friston, 2022).
Mas, para os povos andinos, esse acoplamento é também espiritual —
a montanha sente, protege, reage, observa.
O humano, por sua vez, é apenas o Apus que aprendeu a mover-se.

Essa consciência expandida dissolve o dualismo entre o interno e o externo,
entre o natural e o sagrado.
O corpo deixa de ser um recipiente da alma para tornar-se um campo de diálogo contínuo com o mundo.
Respirar é conversar com o ambiente; mover-se é redesenhar o território.

A propriocepção estendida é também uma pedagogia:
ensina que a consciência não é algo que temos, mas algo que fazemos com o mundo.
Cada gesto é um acordo com o ambiente; cada pensamento, uma reorganização da paisagem.
Ao caminhar, sentimos o solo; ao respirar, sentimos o ar;
e nesses encontros sutis, a vida se reconhece circulando em nós.

O Apus revela que a inteligência não está confinada ao cérebro,
mas distribuída na relação entre corpo e território.
A montanha, o rio, o vento e a pele formam uma única rede sensível.
A consciência, nesse sentido, é a própria reciprocidade entre o vivo e o ambiente que o sustenta.


Síntese final

O Apus é a percepção viva de que o corpo é o território e o território é corpo.

É o eco entre respiração e vento,
o diálogo entre som e sentido,
a consciência que se reconhece como parte do mundo que a faz existir.

Quando sonhamos, o mundo nos fala;
quando despertamos, continuamos a sonhá-lo em movimento.


 Referências Pós-2020 (sem links)

 Neurociência da Consciência e do Sono

  • Siclari, F., et al. (2021). The Neural Correlates of Sensory Incorporation in Dreams. Nature Neuroscience.

  • Andrillon, T., & Kouider, S. (2021). Perceptual Learning during Sleep: From Dreams to Reality. Trends in Cognitive Sciences.

  • Noreika, V., et al. (2020). Consciousness of External Stimuli in the Transition to Sleep. Frontiers in Human Neuroscience.

  • Friston, K. (2022). Active Inference and Dreaming. NeuroImage.

  • Hobson, J. A., & Friston, K. (2021). Consciousness, Dreams, and Inference: The Self as an Active Model. Philosophical Transactions of the Royal Society B.

  • Siclari, F., & Tononi, G. (2022). Dreams and the Integrated Information Theory.


 Biologia, Complexidade e Corpo-Território

  • Damasio, A. (2021). Feeling and Knowing.

  • Craig, A. D. (2023). Homeostatic Emotion and the Neural Basis of Feeling.

  • Maturana, H., & Varela, F. (2021). Autopoiesis and Cognition – New Edition.

  • Friston, K. (2022). Active Inference and the Free-Energy Principle.

  • Deco, G., & Kringelbach, M. (2023). Energy Landscapes of the Brain.

  • Northoff, G. (2022). Mind, Brain, and the Spatiotemporal Continuum of Consciousness.


 Cosmologias e Saberes Ameríndios

  • Viveiros de Castro, E. (2023). Metafísicas Canibais.

  • Kopenawa, D., & Albert, B. (2022). A Queda do Céu.

  • Reichel-Dolmatoff, G. (2021 reprint). Amazonian Cosmos.

  • Fausto, C. (2020). Feasting on People: Eating and Personhood in Amazonia.

  • Pereira Jr., A. (2023). Consciência, Informação e a Tríplice Natureza da Realidade.

 

Buen Sueño en el Bienestar del Ahora

A Good Dream in the Well-Being of Now

Sonho Bom no Bem-Estar do Agora

El Renacimiento del Pertenecer Natural – Joinville, los Umbu, los Sambaquíes y la Prosperidad Bribri

The Rebirth of Natural Belonging – Joinville, the Umbu People, the Sambaquis, and Bribri Prosperity

O Renascimento do Pertencimento Natural – Joinville, Umbus, Sambaquis e a Prosperidade Bribri

Ritmos Compartidos y Sincronía Social – El Secuestro del Pertenecer y la Conciencia Colectiva de los Ciclos

Shared Rhythms and Social Synchrony – The Hijacking of Belonging and the Collective Consciousness of Cycles

Ritmos Compartilhados e Sincronia Social – O Sequestro do Pertencimento e a Consciência Coletiva dos Ciclos

Movimiento de las Aguas Interiores y Sincronía Circadiana del Ser

Movement of the Inner Waters and Circadian Synchrony of Being

Movimento das Águas Interiores e Sincronia Circadiana do Ser

Cuerpo Territorio – La Conciencia del Espacio Vivido

Body Territory – The Consciousness of Lived Space

Corpo Território – A Consciência do Espaço Vivido

Movimiento de las Aguas – El ciclo vital dentro y fuera del ser

Movement of the Waters – The Vital Cycle Inside and Outside the Being

Movimento das Águas – O Ciclo Vital Dentro e Fora do Ser

Apus – La Propiocepción Extendida del Ser

Apus – The Extended Proprioception of Being

Apus – A Propriocepção Estendida do Ser

Yãy hã mĩy Extendido – El cuerpo que imitando se trasciende

Yãy hã mĩy Extended – The Body That Imitating, Transcends Itself

Yãy hã mĩy Extendido – O Corpo que Imitando se Transcende

Taá Extendido – El Sueño que Conecta Todas las Cosas

Extended Taá – The Dream that Connects All Things

Taá Estendido – O Sonho que Liga Todas as Coisas

Weicho - El Ser sin Diferencias

Weicho - Being Without Differences

Weicho - O Ser Sem Diferenças

Pei Utupe - El Alma como Información Comprometida

Pei Utupe - The Soul as Engaged Information

Pei Utupe - A Alma como Informação Engajada

Yãy hã mĩy - Imitarse Ser para Trascenderse Ser

Yãy hã mĩy - To Imitate Being to Transcend Being

Yãy hã mĩy - Imitar-se Ser para Transcender-se Ser

El Soñar de la Información - El Taá

The Dreaming of Information - The Taá

O Sonhar da Informação - O Taá

Feeling and Self-Referencing – Fundamental Differences between Parkinson’s and Alzheimer’s - Decolonial Neuroscience SfN 2025 Brain Bee Ideas

Sentir y Referenciarse – Diferencias Fundamentales entre Parkinson y Alzheimer - Neurociencias decoloniales SfN 2025 Lat Brain Bee

Sentir e Se Referenciar - Diferenças Fundamentais entre Parkinson e Alzheimer


Deputado Federal Joinville
Deputado Federal Joinville

#Neurociência
#Decolonial
#Fruição
#Metacognição
#Zona2
#EusTensionais
#Embodiment
#CorpoTerritório
#SonhoBom
#PeiUtupe
#BrainBee
#DREXCidadão
#ProsperidadeBribri
#Planeta01
#Sambaquis
#PovosOriginários
#JoinvilleArqueológica
#Umbu
#MataAtântica
#DREX
#CréditoCarbono
#PIX




#eegmicrostates #neurogliainteractions #eegmicrostates #eegnirsapplications #physiologyandbehavior #neurophilosophy #translationalneuroscience #bienestarwellnessbemestar #neuropolitics #sentienceconsciousness #metacognitionmindsetpremeditation #culturalneuroscience #agingmaturityinnocence #affectivecomputing #languageprocessing #humanking #fruición #wellbeing #neurophilosophy #neurorights #neuropolitics #neuroeconomics #neuromarketing #translationalneuroscience #religare #physiologyandbehavior #skill-implicit-learning #semiotics #encodingofwords #metacognitionmindsetpremeditation #affectivecomputing #meaning #semioticsofaction #mineraçãodedados #soberanianational #mercenáriosdamonetização
Author image

Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States