Jackson Cionek
13 Views

Sinapses Elétricas e o Silêncio da Motivação - Neurociência Decolonial

Sinapses Elétricas e o Silêncio da Motivação - Neurociência Decolonial

“Quando a dopamina silencia, o corpo fala por sincronia.” — Jackson Cionek


O instante em que o fazer deixa de precisar de motivo

Em algum ponto entre o esforço e o repouso, há um momento em que a motivação desaparece.
Não porque o indivíduo perdeu o interesse, mas porque o sistema dopaminérgico se cala.
O corpo continua — fazendo, ajustando, sendo — guiado não mais pelo desejo de recompensa,
mas por uma sincronia bioelétrica entre neurônios, músculos e ambiente.

É o instante em que o fazer se torna silencioso:
nenhuma expectativa, nenhum cálculo, nenhum retorno.
A ação acontece como um eco de algo que sempre soube —
um gesto herdado, uma fé neural, um conhecimento que o corpo aprendeu por pertencimento.


Da dopamina à sincronicidade

A dopamina é o mensageiro da antecipação — o que impulsiona o “quero fazer”.
Mas toda antecipação depende de um futuro esperado; ela cria a distância entre o agora e o depois.
Nas sinapses químicas, essa distância é literal: há fendas, liberação, captação, atraso.

As sinapses elétricas, por outro lado, não esperam.
O sinal vai e volta instantaneamente, sem intermediações químicas lentas.
Essa reciprocidade cria um campo de sincronia,
onde o corpo e o ambiente trocam informação no mesmo pulso de tempo.

Quando o cérebro passa a operar com predominância dessas conexões —
em estados de fruição, fé neural, alta performance ou rituais incorporados —
a dopamina deixa de ser o motor.
A ação não depende mais de motivação: ela é o próprio ritmo da existência.


O fazer espiritual

Nas culturas ameríndias, o fazer sagrado nunca é separado do mundo.
O caçador Maxakali não age sobre o animal: ele o imita (Yãy Hã Miy).
O gesto nasce da reciprocidade — tocar e ser tocado, perceber e ser percebido.

A sinapse elétrica é a materialização fisiológica desse princípio.
Ela permite que o corpo atue em duas direções simultâneas:
enviar e receber, mover e ser movido, falar e escutar.

Quando isso ocorre, o fazer torna-se espiritual
não no sentido religioso, mas como experiência direta de unidade entre corpo e ambiente.
A energia que antes servia à busca de um objetivo
é agora usada para sincronizar o organismo com o entorno.


O silêncio da motivação

O indivíduo em alta performance não precisa de motivação:
ele está metabolicamente engajado em um campo de sentido que o sustenta.
Nesse estado, o sistema mTOR está inibido,
a respiração se estabiliza entre 6 e 8 ciclos por minuto,
e a mente Damasiana opera com predominância da propriocepção e da interocepção.

Não há dopamina subindo e descendo — há coerência rítmica.
Não há urgência — há presença contínua.
É o silêncio da motivação, onde o corpo e o mundo são um mesmo circuito elétrico.


Espiritualidade no fazer

Esse silêncio não é vazio:
é a base da espiritualidade encarnada — o momento em que o fazer é o orar.
A fé neural, desenvolvida pela repetição e confiança,
abre o espaço para o gesto sem ego,
aquele em que o corpo age por sabedoria incorporada.

A sinapse elétrica é o sacramento da reciprocidade:
o corpo toca o mundo, e o mundo responde com o mesmo pulso.

Na visão da Neurociência Decolonial, isso é o contrário do ideal ocidental de performance produtiva.
Não se trata de ser mais rápido, eficiente ou competitivo,
mas de ser coerente — metabolicamente, espiritualmente, socialmente.
A dopamina social, que impulsiona o desejo de reconhecimento,
cede lugar à sincronicidade bioelétrica, que sustenta o pertencimento.


Síntese

Quando a dopamina se cala, o corpo escuta.
E quando escuta, descobre que a motivação era apenas o eco da desconexão.
A verdadeira liberdade é o fazer que não espera nada —
o gesto que se basta,
o toque que toca e é tocado,
o silêncio que pensa por si.


Referências pós-2020

  • Damasio, A. (2021). Feeling & Knowing: Making Minds Conscious.

  • Northoff, G. (2022). The Spontaneous Brain: From Mind–Body to World–Brain Relation. Frontiers in Psychology.

  • Pereira Jr., A. (2021). Triple-Aspect Monism and the Unity of Mind and Body. Philosophies.

  • Simor, P. et al. (2023). Metastable Brain States and Consciousness. Neuroscience & Biobehavioral Reviews.

  • Berntson, G. G., & Khalsa, S. S. (2021). Neural Circuits of Interoception. Trends in Neurosciences.





#eegmicrostates #neurogliainteractions #eegmicrostates #eegnirsapplications #physiologyandbehavior #neurophilosophy #translationalneuroscience #bienestarwellnessbemestar #neuropolitics #sentienceconsciousness #metacognitionmindsetpremeditation #culturalneuroscience #agingmaturityinnocence #affectivecomputing #languageprocessing #humanking #fruición #wellbeing #neurophilosophy #neurorights #neuropolitics #neuroeconomics #neuromarketing #translationalneuroscience #religare #physiologyandbehavior #skill-implicit-learning #semiotics #encodingofwords #metacognitionmindsetpremeditation #affectivecomputing #meaning #semioticsofaction #mineraçãodedados #soberanianational #mercenáriosdamonetização
Author image

Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States