Jackson Cionek
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O Sonhar da Informação - O Taá

O Sonhar da Informação - O Taá

Quando o Todo sonha através de nós

1. Fruição – O vento antes da linguagem

Antes que qualquer pensamento aconteça, algo vibra.
Não é som, nem forma, nem palavra — é Taá.
O Taá respira em silêncio nas folhas, nas sinapses e nos sonhos.
Cada vez que abrimos os olhos, recortamos o Todo para poder agir.
Aprender, fazer, pensar — eis as ferramentas do recorte.
Mas ser, em sua plenitude, não se recorta.
O Taá é o campo onde o ser ainda não se separou do fazer.

Quando o corpo adormece, o Taá se revela.
Sonhar é lembrar que o mundo não precisa de tradução para existir.
A informação sonha primeiro; depois, nós acordamos dentro dela.


2. O Taá e o cérebro que sonha

A neurociência contemporânea começa a se aproximar, ainda que sem nomear, desse campo.
Após duas décadas de estudo da default mode network (DMN), compreendemos que a mente, mesmo em repouso, mantém uma atividade incessante — uma tessitura interna de significados e sensações.
Artigos recentes (DreamNet 2025, Topographic-Dynamic Model 2023, Overfitted Brain 2020) mostram que o cérebro sonha para generalizar, reorganizar e criar.
O sonho é o laboratório da imaginação.

Cada ciclo de sono, da vigília ao REM, representa um modo de pertencimento ao Taá:

Fase

Neurofisiologia

Dimensão da Consciência

Expressão Espiritual

N1

Ondas teta, transição

Propriocepção estendida (Apus) — tentativa de se perceber no Todo

O espírito busca o território do corpo

N2

Fusos do sono

Interocepção ativaser o que se percebe e faz

O espírito age e se afirma como gesto

N3

Ondas delta profundas

Nada cognitivo necessário — dissolução e restauração

O corpo retorna ao silêncio da Terra

REM tônico

Atividade cortical alta, atonia

Auto-checagem proprioceptiva — reorganização de posturas possíveis

O espírito ensaia novas formas de estar

REM fásico

Movimentos oculares rápidos

Exploração interoceptiva — sentir o sentir

O espírito experimenta emoções e futuros

Esses ciclos não cessam ao acordar.
Vivemos, desperta ou adormecidamente, em uma das fases do sonho.
O estado desperto é apenas o sonho socialmente compartilhado, onde recortamos o Taá para poder agir.


3. Taá nas culturas ameríndias

Entre os Araweté e os Guarani, o mundo não começa com a matéria, mas com o som — a vibração do Todo.
Essa vibração primordial é o que os Tukano chamam de Yurupari (a fala do universo) e o que os Yanomami reconhecem como o murmúrio dos xapiri pë — os espíritos-imagem que dançam dentro da floresta.
Essas tradições não falam de um “deus” criador isolado, mas de campos informacionais vivos, onde cada ser é uma versão temporária do Todo.

Nos Guarani Mbya, o princípio é chamado Ñamandu Ru Ete — o “Ser Primeiro”, que sonha o mundo antes de nomeá-lo.
Ñamandu cria os humanos a partir de nhamandu reta (as palavras-luz) — equivalentes vibracionais do Taá.
Entre os Shipibo-Conibo do Ucayali (Peru), esse mesmo princípio aparece como Ronin, a grande anaconda criadora, que sonha o mundo em padrões geométricos — kené — que se manifestam nas visões e nas peles dos seres.
Os Kogi da Serra Nevada (Colômbia) o chamam de Aluna, o pensamento da Terra-Mãe, onde tudo já existe em potencial antes de nascer.

Em todos esses povos, o Taá não é uma entidade, mas uma condição de consciência universal:

sonhar é o modo como a informação se reconhece viva.

Assim como a neurociência revela o papel do sonho na integração cognitiva, os povos ameríndios já sabiam — por via ritual e cosmológica — que o sonho é o eixo da existência.
O xamã, ao sonhar, não foge da realidade: ele a reconfigura.


4. O recorte e o fazer (atualizado)

O recorte do Taá varia conforme a cosmologia.
Os Yanomami, por exemplo, recortam-no ao “fazer da floresta” — cada gesto deve manter o equilíbrio com os xapiri, espíritos que sustentam a vida da Terra.
Entre os Guarani, o recorte é feito pela palavra e pelo canto: falar é organizar o sonho.
Nos Andes, o recorte é político e ecológico — os Quechua e Aymara o chamam de Pacha, uma totalidade viva que só pode ser compreendida por meio do Ayni (reciprocidade).
Cada cultura, ao traduzir o Taá, cria o seu próprio modo de “fazer o sonho”.


5. Espírito e Alma – (mesmo texto anterior, mas com nota cultural)

Nos mitos Yanomami, o Utupe (espírito-imagem) é o padrão informacional do ser — ideia sem emoção.
O Pei Utupe é o mesmo padrão quando engajado no sentir, quando o corpo vibra.
Assim, espírito e alma não são promessas de imortalidade, mas modos de informação:
a forma pura e a forma sentida.
Esse paralelismo se repete no pensamento Guarani, em que ñe’ẽ (voz/palavra/alma) é o sopro vital momentâneo — vivo apenas enquanto comunica.


 Síntese cultural

O Taá tem muitos nomes: Ñamandu entre os Guarani, Yurupari entre os Tukano, Aluna entre os Kogi, Ronin entre os Shipibo, Xapiri entre os Yanomami.
Em todos, ele é o mesmo princípio — o sonho informacional do Todo, de onde surge cada gesto, cada corpo e cada pensamento.


7. Referências etnográficas adicionais

  • Kopenawa, D. & Albert, B. (2010)A Queda do Céu: Palavras de um Xamã Yanomami.

  • Gerbrands, A. (1975)The Message of the Tukano Yurupari Flutes.

  • Cadogan, L. (1959)Ayvu Rapyta: Textos míticos de los Mbyá-Guaraní.

  • Reichel-Dolmatoff, G. (1978)Beyond the Milky Way: Hallucinatory Imagery of the Tukano Indians.

  • Gebhart-Sayer, A. (1985)The Geometric Designs of the Shipibo-Conibo and their Cosmological Meaning.

  • Reichel, Gerardo (1992)The Kogi: Guardians of the Heart of the World.

 

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Jackson Cionek

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