Jackson Cionek
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Freezing of gait e a perda do Quorum do próprio corpo Quando os pés travam e o mundo continua andando

Freezing of gait e a perda do Quorum do próprio corpo
Quando os pés travam e o mundo continua andando


O Sentir e Saber Taá — quando o corpo perde o passo

Eu já senti o corpo hesitar na porta.
Não é só medo, nem só desequilíbrio: é como se os pés pertencessem a outro tempo. A mente diz “anda”, o ambiente chama “vem”, mas o corpo responde “não posso”. É um micro-apagão de pertencimento: de repente eu não pertenço mais ao chão, nem à calçada, nem à porta estreita à minha frente.

Quando penso em freezing of gait em Parkinson, eu imagino exatamente esse momento em primeira pessoa: meu corpo tentando entrar em um corredor estreito, subir uma rampa, caminhar sobre um piso estranho, enquanto algo dentro de mim desorganiza o ritmo. O Quorum Sensing do meu próprio corpo falha: as pernas deixam de “votar” a favor do movimento, como se o coletivo de músculos, sentidos e circuitos corticais perdesse o acordo mínimo para seguir adiante.

É aqui que Taá aparece: eu sinto para saber. Sinto o travamento, a microtensão no peito, o peso na perna, o olhar tentando controlar cada passo. E é a partir desse sentir que eu posso ler a ciência — não como algo distante, mas como uma descrição finíssima desse conflito entre cérebro, corpo, ambiente e medicamento.

Percebo também que até as palavras com que descrevemos tudo isso foram colonizadas.
O idioma que uso para pensar o mundo foi moldado para me reduzir: meu corpo vira máquina defeituosa, minha mente vira déficit, minha espiritualidade vira superstição, minha política vira apenas consumo e produtividade. Por isso tantos neurocientistas evitam perguntas que possam revelar o que a ciência colonial não sabe nomear.
Mas quando eu sinto meu corpo antes de pensar — quando Taá se manifesta — percebo que não existe separação entre Neurociência, Política e Espiritualidade (Utupe, Xapiri, memória viva). O que coloniza não é só a história: é a palavra que me impede de existir inteiro. Cada estudo, quando lido com coragem, abre uma fresta de liberdade que rompe a Zona 3 e devolve o corpo ao que sempre foi: território vivo de mundos possíveis.


O estudo em foco: rede cortical, dopamina e travamento da marcha

Neste blog, eu dialogo com o artigo “Sensory integration deficits in Parkinson’s disease with freezing of gait: cortical network dynamics and paradoxical dopaminergic modulation”, de Feng e colaboradores, publicado no Journal of Neurology (busque por esse título com as palavras-chave Parkinson’s disease, freezing of gait, fNIRS, cortical network dynamics).

A pergunta científica central é direta e, ao mesmo tempo, profunda:

O que acontece nas redes corticais quando uma pessoa com Parkinson e freezing of gait caminha em diferentes contextos sensoriais — e como a dopamina modula (ou não) essa dinâmica?

Para responder isso, os autores compararam três grupos:

  • pessoas saudáveis (controles);

  • pessoas com Parkinson sem freezing (PD-nFOG);

  • pessoas com Parkinson com freezing of gait (PD-FOG).

Todos caminharam em quatro situações sensoriais:

  1. Chão normal (Walking-on-Ground);

  2. Espuma (Walking-on-Foam) — propriocepção do tornozelo “confusa”;

  3. Porta estreita (Walking-through-Narrow-gate);

  4. Rampa inclinada (Walking-through-Slope).

Além da marcha filmada e analisada, o estudo registrou a hemodinâmica cortical com fNIRS durante a caminhada.


Métodos: fNIRS, conectividade e o corpo caminhando

A aquisição foi feita com um sistema portátil NIRSport 8×8 (NIRx), com optodos posicionados pelo sistema 10–20, cobrindo áreas como:

  • córtex pré-motor e suplementar (SMA),

  • córtex motor primário (M1),

  • áreas somatossensoriais (S1, SAC),

  • córtex pré-frontal (PFC) e campos oculares frontais (FEF).

Os sinais de fNIRS foram:

  • filtrados em banda 0,01–0,2 Hz para remover ruído fisiológico rápido;

  • convertidos em variações de oxi-hemoglobina (ΔHbO₂) via lei de Beer–Lambert modificada;

  • resumidos por região com PCA (análise de componentes principais), extraindo o componente temporal mais representativo de cada área;

  • usados para estimar conectividade funcional, via correlações de Pearson entre regiões (por exemplo, S1–M1, PFC–SMA, S1–FEF).

Em vez de um modelo canônico GLM clássico por evento, o foco aqui foi a comparação de níveis médios de ativação e padrões de conectividade entre tarefas e grupos, usando ANOVAs, modelos hierárquicos e regressões passo a passo. Para um estudante Brain Bee, vale anotar a “caixa de ferramentas” deste artigo:

  • fNIRS em ambiente de marcha real;

  • PCA para reduzir dimensionalidade dos canais;

  • conectividade funcional baseada em correlação;

  • análise estatística em múltiplas tarefas sensoriais e estados ON/OFF medicação.


Resultados: quando o Quorum cortical falha

Lendo em primeira pessoa, eu poderia resumir assim:

  • Eu caminho mais devagar: o grupo Parkinson caminha mais lentamente que controles, e quem tem freezing (PD-FOG) caminha ainda mais devagar em todas as condições.

  • Meu cérebro tenta compensar: há hiperativação sensorimotora em várias tarefas — S1, M1, áreas associativas — como se o córtex tentasse segurar a marcha “na força bruta da atenção”.

  • Mas o padrão que mais dói aparece na conectividade:

    • o grupo com Parkinson mostra hiperconectividade extensa entre regiões sensoriais, motoras e pré-frontais durante a marcha;

    • dentro do Parkinson, quem tem freezing mostra padrões ainda mais desorganizados em condições desafiadoras, como caminhar na espuma ou passar por portas estreitas.

  • A dopamina ajuda… mas de um jeito paradoxal:

    • melhora a velocidade da marcha, reduz alguns episódios de freezing;

    • ao mesmo tempo, suprime certas ativações e conectividades que pareciam compensatórias — especialmente em PD-FOG.

É como se o cérebro com freezing estivesse permanentemente em um “modo emergência” hiperconectado, mas sem conseguir modular essa rede quando o contexto muda. O Quorum da rede cortical não se reorganiza; ele endurece.


Lendo com nossos conceitos: Quorum Sensing, Zona 3 e Math Hep

No meu modelo, freezing of gait é um exemplo extremo de perda do Quorum Sensing Humano (QSH) dentro do próprio corpo:

  • o corpo sabe andar;

  • o DNA, via DANA, estruturou por décadas esse padrão motor;

  • mas, sob certas tensões sensoriais (porta estreita, rampa, piso instável), os Eus Tensionais se saturam.

Em vez de Zona 2 — fruição do caminhar, fluxo, ritmo — a pessoa entra numa Zona 3 motora:

  • hipercontrole pré-frontal e sensorial,

  • hiperconectividade que não adapta,

  • excesso de monitoramento consciente do passo,

  • medo de cair, de travar, de “passar vergonha”.

Vendo por esse recorte, o avatar que mais me orienta aqui é o Math Heb, o Avatar das Conexões Tensionais e do Pertencimento. Ele me lembra que:

  • cada episódio de freezing é um Eu Tensional extremo,

  • reforçado repetidamente por experiências de ameaça, quedas e constrangimento,

  • inscrito em redes neurais reais que podemos medir com fNIRS, EEG, SpO₂.

Ao mesmo tempo, Yãy hã mĩy (no seu sentido original Maxakali de “imitar o animal que se quer caçar” e, no nosso sentido estendido, como processo de imitar-se SER para transcender-se SER) aparece aqui de forma perturbadora: o corpo tenta imitar um caminhar “normal”, socialmente esperado, mas a rede cortical não sustenta essa imitação. O Quorum interno não fecha.


Recortar o todo, escolher o avatar, voltar ao Universo

Para compreender este fenômeno, eu recorto o Universo em um pedaço muito específico:
“pessoa com Parkinson, caminhando sobre espuma, sob fNIRS, ON e OFF dopamina”.

Esse recorte cria um tempo: ciclos de passos, pulsos de luz infravermelha, fases de tarefa e repouso. Dentro desse recorte, eu extraio conhecimento — PCA, conectividade, regressões — e depois preciso voltar ao todo: como esse corpo vive na rua, na casa, na cidade?

No Prompt BrainLatam2026, este artigo me puxa diretamente para o avatar Math Heb, que liga:

  • tensões sensoriais;

  • redes neurais medíveis (ΔHbO₂, conectividade);

  • pertencimento ou não pertencimento ao próprio corpo em movimento.

DANA, por sua vez, lembra que ainda existe inteligência do DNA tentando reorganizar padrões, mesmo sob degeneração dopaminérgica. A pergunta passa a ser: como nossas cidades ajudam ou atrapalham essa reorganização?


Arte latino-americana como espelho: “Caminar, caminar”

Para abrir essa leitura ao nível latino-americano, eu ouço, ao fundo, a canção “Caminar, caminar”, de Atahualpa Yupanqui, onde o ato de caminhar é metáfora de busca, insistência e dignidade. Na nossa região, caminhar não é só locomover-se: é resistir à desigualdade, ao abandono, à cidade que exclui.

Ver uma pessoa com freezing of gait é, então, mais do que um fenômeno motor:
é ver um corpo que luta para continuar “caminando” num mundo que já anda rápido demais.


O que este estudo ajusta nos nossos conceitos

Antes de ler esse artigo, eu poderia imaginar o freezing como algo “puramente subcortical”, quase todo nos gânglios da base. A fNIRS me obriga a ajustar:

  • não é só falta de ativação, é hiperconectividade desorganizada;

  • não é só problema de dopamina, é modulação paradoxal de redes corticais inteiras;

  • não é só um déficit motor local, é um colapso de adaptação sensório-contextual.

Em termos de Zona 1, 2 e 3:

  • o controle voluntário e automatizado da marcha (Zona 1) entra em falha;

  • a Zona 2 do caminhar — fruída, fluida — se torna cada vez mais rara;

  • a Zona 3 toma conta: medo, hipervigilância, excesso de controle, perda de pertencimento ao próprio corpo.


Implicações para políticas públicas e cidades na América Latina

Se eu levo esse estudo a sério como Neurociência Decolonial, ele me obriga a pensar:

  • Urbanismo: portas estreitas, calçadas irregulares, rampas improvisadas em favelas e bairros periféricos são verdadeiros provocadores de freezing — e de queda.

  • Saúde pública: protocolos de reabilitação deveriam incluir fNIRS portátil, SpO₂, análise de conectividade, para acompanhar se intervenções realmente reorganizam redes, e não apenas “melhoram a nota na escala clínica”.

  • Direito à cidade: uma prefeitura latino-americana poderia usar evidências assim para legislar sobre largura mínima de portas, qualidade de calçadas, corredores acessíveis em hospitais, repartições públicas e transporte coletivo.

  • Política de pesquisa: incentivar estudos que cruzem fNIRS, EEG e arte latino-americana (música, poesia, dança) em reabilitação — por exemplo, caminhar com estímulos rítmicos baseados em canções como as de Yupanqui ou Violeta Parra.


Palavras-chave para busca científica

freezing of gait, Parkinson’s disease, sensory integration deficits, cortical network dynamics, dopaminergic modulation, functional near-infrared spectroscopy, fNIRS, NIRSport, PCA, functional connectivity, Quorum Sensing Humano, Eus Tensionais, Zona 3, Math Heb, DANA, Yãy hã mĩy (povo Maxakali), Atahualpa Yupanqui, Neurociência Decolonial, Consciência em Primeira Pessoa, Brain Bee, O Sentir e Saber Taá.




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Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States