Jackson Cionek
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Despertar do Coma

Despertar do Coma

"Eu estou aqui, mas não consigo me mover. Meu corpo respira, meu coração pulsa, e dentro de mim ainda há ondas silenciosas de vida. Às vezes sinto como se um sopro de ar, uma voz conhecida ou o calor de uma mão me chamassem de volta. É como se meu corpo inteiro fosse um instrumento pronto para tocar, mas faltasse o ritmo que organiza a melodia. Eu espero pelo ciclo que vai reacender minhas manhãs e noites, porque sei que quando o tempo voltar a pulsar em mim, poderei me referenciar de novo e dizer: este sou eu."


1. Base clínica (o que já é usado em hospitais)

A saída do coma é sempre multifatorial e depende da causa (trauma, anóxia, infecção, metabólica). Mas há protocolos reconhecidos que aumentam as chances de recuperação:

  • Estabilizar o corpo: corrigir oxigenação, glicemia, eletrólitos, pressão intracraniana.

  • Reduzir sedação (quando induzido): suspender gradualmente anestésicos para observar retorno da atividade espontânea.

  • Estimulação sensorial: uso de voz de familiares, música significativa, estímulos táteis ou olfativos (pessoas próximas e cheiros familiares ajudam muito).

  • Neuroestimulação: estudos com tDCS, TMS ou até DBS do tálamo em casos refratários.

  • Cronoterapia: exposição à luz natural para tentar reestabelecer ritmo circadiano.


2. Neurofisiologia e metabolismo

O que parece facilitar a transição do coma para consciência mínima é restabelecer:

  • Ciclos circadianos (sono-vigília): essenciais para sincronizar redes talamocorticais.

  • Integração interoceptiva (respiração guiada, estímulos auditivos ligados ao nome próprio, variação de HRV).

  • Plasticidade metabólica: nutrição enteral ajustada, ambientes enriquecidos, controle de inflamação.

  • Ativação dopaminérgica/noradrenérgica: fármacos como amantadina já mostraram acelerar saída do coma em alguns pacientes.


3. Em nossa moldura conceitual

Mente Damasiana: mesmo em coma, pode estar ativa de forma basal, mas sem “referenciar-se”.
Eu tensional: só emerge quando interocepção (sentimentos viscerais) e propriocepção (corpo, mesmo imagético) se diferenciam e se integram.
Como facilitar?

  • Restaurar ritmicidade circadiana → abrir espaço para ciclos REM/NREM.

  • Estimulação interoceptiva → sons familiares, respiração ritmada, batimentos.

  • Estimulação proprioceptiva → movimentação passiva, toque repetitivo, sensação de corpo.

  • Narrativa afetiva externa (vozes familiares falando no presente) → ajuda o cérebro a criar âncoras episódicas para reativar um eu tensional.


4. Exemplos de experimentos/publicações

  • Amantadina (Giacino et al., 2012, NEJM): acelera recuperação pós-trauma.

  • Música familiar (O’Kelly et al., 2013): ativa córtex auditivo e límbico em estado vegetativo.

  • TMS de 20 Hz sobre córtex pré-frontal (Thibaut et al., 2014): melhora responsividade em alguns pacientes.

  • Exposição à luz intensa (Weinhouse et al., 2009): restaura ritmo circadiano em pacientes de UTI.


Facilitar a saída do coma é criar condições para que a Mente basal se organize em ciclos rítmicos, permitindo que surjam eus tensionais novamente.

  • Se o corpo está “okay”, o desafio é dar energia rítmica, afetiva e narrativa para que o cérebro volte a se auto-referenciar.

  • Em termos práticos: ritmo circadiano + estimulação interoceptiva + propriocepção guiada + narrativa afetiva.


O que mostram os dados científicos

1. Sono e coma não são equivalentes

  • O coma não é sono profundo: é um estado de suspensão da Consciência com alterações difusas na conectividade cerebral.

  • EEG de coma profundo lembra às vezes o sono de ondas lentas (N3), mas sem a ciclicidade NREM–REM típica do sono.

2. Prognóstico melhor quando reaparecem ciclos sono–vigília

  • Estudos de EEG e polissonografia mostram que pacientes que recuperam padrões circadianos e oscilam entre NREM e REM têm maior chance de sair do coma.

  • A presença de sono REM é um marcador prognóstico positivo.

  • Exemplo: Forgacs et al., 2014 (Annals of Neurology) — mostraram que pacientes com arquitetura de sono preservada no EEG tinham maior taxa de recuperação da Consciência.

3. Saída do coma geralmente passa por estágios intermediários

  • Muitos pacientes não “acordam direto”, mas entram em estados intermediários:

    • Estado vegetativo (vigília sem Consciência)

    • Estado minimamente consciente (flutuações de Consciência parcial)

  • Esses estados se parecem com uma arquitetura de sono fragmentada: olhos se abrem, há ciclos de atividade e repouso, mas sem narrativa consciente.

4. Não é obrigatório passar por sono normal

  • Existem relatos de pacientes que recuperaram a Consciência sem evidência clara de sono REM prévio.

  • Isso sugere que o sono facilita a reintegração de redes (tálamo–córtex, DMN), mas não é condição necessária.

  • O ponto crucial parece ser a retomada da ritmicidade neuronal (oscilações teta, alfa, delta em ciclos coerentes), que pode ocorrer com ou sem sono típico.


Em nossa moldura conceitual

  • Mente Damasiana basal: pode estar preservada durante o coma.

  • Consciência nuclear (eu tensional): só emerge quando há organização temporal suficiente.

  • Sono REM/NREM: é uma das formas naturais do cérebro retomar ritmicidade. Quando reaparece, indica que o hiperespaço mental voltou a se organizar e diferenciar interocepção/propriocepção.

  • Mas a saída do coma em si não exige obrigatoriamente “passar pelo sono”, apenas requer restaurar a ritmicidade e a diferenciação dos fluxos corporais — o sono é um caminho privilegiado, mas não exclusivo.


Síntese:

  • Estatisticamente, pacientes que recuperam padrões de sono têm maior chance de sair do coma.

  • A presença de REM é um dos melhores preditores de recuperação.

  • Mas não é obrigatório que a saída aconteça passando pelas fases clássicas do sono: o essencial é a reorganização rítmica da atividade cerebral.


Ajuste conceitual

  • Tempo como diferencial:
    No contexto de sistemas complexos, o tempo não é um eixo absoluto, mas nasce da interação de três ou mais movimentos diferenciais que se cruzam.

    • No universo físico → tempo emerge de relações diferenciais entre movimentos espaciais.

    • No corpo → tempo emerge de diferenciais metabólicos entre órgãos e sistemas (respiração, batimento cardíaco, atividade sináptica, ritmos hormonais).

  • Consciência nuclear (eu tensional):
    Ela não depende de um tempo externo, mas de uma organização temporal suficiente, isto é, a sincronia que nasce desses diferenciais metabólicos.
    Quando órgãos e sistemas corporais geram oscilações coerentes (respiração + coração + ciclos corticais, por exemplo), o eu tensional encontra estabilidade para emergir.

  • Saída do coma nesse modelo:
    Não é “entrar no sono” necessariamente, mas recuperar o tempo interno, isto é, a capacidade do corpo de produzir diferenciais metabólicos organizados que se retroalimentam.
    O retorno do ritmo circadiano e de flutuações REM/NREM é só um sinal visível de que esse tempo interno voltou a pulsar.



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Jackson Cionek

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