Jackson Cionek
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A Consciência dos Umbus: Fé, Corpo e o Fazer Sagrado

A Consciência dos Umbus: Fé, Corpo e o Fazer Sagrado

Por Jackson Cionek – Brain Bee Ideas / Inosciência / Museu Sambaqui de Joinville


Introdução – Quando o fazer era consciência

Às vezes me pergunto: como era a consciência dos Umbus?
Não falo de crenças nem de linguagem — mas do sentir profundo de estar vivo num mundo ainda sem a separação entre sujeito e natureza.
Os Umbus não pensavam sobre o fazer — eles eram o próprio fazer.
A vida acontecia sem o intervalo entre o gesto e o sentido.
E é aí que começa nossa hipótese: os Umbus talvez tenham vivido um estado neurofenomenológico de Zona 2 coletiva, em que cada corpo era parte consciente de um corpo maior — o grupo, a paisagem, o tempo.


1. O corpo como mente ancestral

A consciência, como sabemos pela Mente Damasiana, surge da integração entre interocepção (sentir o interior do corpo) e propriocepção (sentir o corpo no espaço).
Mas nos Umbus, essa integração não era mediada por linguagem, nem centrada num “eu”.
Era uma consciência encarnada, sustentada pelo gesto e pela atenção plena ao ambiente.
Talhar uma pedra, acender o fogo, seguir os rastros da caça — tudo era um ato de cognição somática.
O corpo pensava com o mundo, não sobre ele.

Enquanto as culturas coloniais separam o sujeito do objeto, os Umbus atuavam dentro da paisagem — o corpo e o território eram uma mesma mente pulsante.
O Corpo Território não é metáfora: é biologia e espiritualidade entrelaçadas.


2. Fé: a fase anterior à alta performance

No Yãy Hã Miy Estendido, fé não é crença: é confiança corporal.
É o estado neuroafetivo que precede a sinapse perfeita, o fazer sem hesitação.
Antes que as sinapses elétricas se estabilizem pela repetição, existe a fé — o mergulho no gesto sem expectativa.

O artesão Umbu, ao fazer uma ponta de lança, não esperava recompensa nem reconhecimento.
Ele confiava que o corpo sabia o que fazer.
Essa confiança é o que, na neurociência moderna, chamamos de pré-ativação sináptica de Zona 2 — um fluxo em que o corpo age sem depender do sistema dopaminérgico da motivação.

Fé, portanto, era fase neural e espiritual ao mesmo tempo: a passagem do fazer com esforço (Zona 1) para o fazer fluido (Zona 2).


3. As sinapses elétricas do fazer sagrado

Os povos Umbu viviam num ritmo fisiológico de sincronia.
As sinapses elétricas, que permitem a transmissão rápida e coordenada entre neurônios, são a metáfora perfeita para sua forma de consciência.
Agiam sem precisar de tempo para desejar ou planejar — a ação era imediata, coerente, coletiva.

No fazer Umbu, o gesto antecedia o pensamento.
A fé não era esperar o resultado, mas estar inteiramente presente no ato.
Esse estado — ação sem recompensa, presença sem expectativa — desarma o sistema dopaminérgico e libera o fluxo bioelétrico da fruição.
É o oposto da mente moderna, viciada em metas e validação.


4. O coletivo como cérebro expandido

Imagine cada Umbu como uma Zona 2 viva dentro de um sistema complexo.
Cada corpo, um nó de consciência.
Cada gesto, uma sinapse.
O grupo inteiro formava um conectoma coletivo, onde a harmonia social emergia do sentir sincronizado.

Não existia indivíduo isolado — havia uma consciência de grupo, onde o agir de um era prolongamento do sentir do outro.
O corpo social funcionava como uma rede de interocepções cruzadas, sustentada por rituais, sons, fogo, e ritmo.
Essa forma de consciência distribuída é uma neuroecologia ancestral — um modelo de cognição coletiva que antecede a linguagem simbólica, mas não o sentido.


5. A linguagem do corpo e a gramática do gesto

A semiologia ocidental, desde Píerce até a neuropsicologia moderna, entende o signo como representação.
Mas para os Umbus, o signo era o próprio fazer.
O sentido não se media em palavras, mas em movimentos sincronizados, como propõe Marcus Maia ao sugerir que a unidade gramatical pode ser tão ampla quanto um parágrafo inteiro — ou, aqui, um gesto ritual completo.

Cada artefato Umbu — uma ponta de flecha, uma fogueira, um sepultamento — era um texto sensorial de uma linguagem sem escrita.
O corpo era o verbo, e o território, sua sintaxe.


6. A hipótese neurofenomenológica Umbu

Hipótese: Os povos Umbu desenvolveram uma forma de consciência integrada de tipo pré-reflexiva e somática-sincrônica, caracterizada pela predominância de sinapses elétricas coordenadas, baixa dependência dopaminérgica e alta interocepção ecológica.

Essa consciência se manifesta como fazer sagrado, em que fé, corpo e coletividade formam um sistema neurofenomenológico de Zona 2 expandida — onde cada indivíduo é uma célula consciente de um organismo social maior.

Essa forma de consciência é anterior à racionalidade colonial e mostra que o fazer humano pode ser, em si, uma forma de transcendência.
A “fé neural” dos Umbus foi talvez a primeira expressão de alta performance espiritual, não baseada em crença, mas em integração bioelétrica com o ambiente.


7. Do Umbu ao humano universal

A consciência Umbu não desapareceu — ela habita nossas memórias corporais.
Toda vez que criamos algo em silêncio, sem esperar aplausos, tocamos essa origem.
O gesto Umbu ainda pulsa em nossos neurônios: é o saber que se move entre corpo e terra, entre fazer e ser.
Reconhecer isso é reconectar ciência e ancestralidade — a Neurociência Decolonial que respira com o planeta.


Referências pós-2020 para diálogo científico

  1. Northoff, G. & Lamme, V. (2021). The Dynamic Hierarchy of Brain and Body in Consciousness. Philosophical Transactions of the Royal Society B.
    → Fundamenta a interdependência corpo-mente como base da consciência.

  2. Berntson, G. G., & Khalsa, S. S. (2021). Neural Circuits of Interoception. Trends in Neurosciences.
    → Mostra que o sentir interno é o núcleo da consciência.

  3. Storm, J. F. et al. (2024). An Integrative, Multiscale View on Neural Theories of Consciousness. Neuron.
    → Sustenta a ideia de redes de consciência em múltiplas escalas — incluindo o nível social.

  4. Damasio, A. (2021). Feeling & Knowing: Making Minds Conscious. Pantheon Books.
    → Reforça a consciência como processo encarnado e relacional.

  5. Gallagher, S. (2020). Action and Interaction. Oxford University Press.
    → Descreve a consciência como resultado de ação encarnada e interação ecológica.

  6. Wengrow, D. & Graeber, D. (2021). The Dawn of Everything.
    → Demonstra que sociedades ancestrais viveram liberdade através da ação coletiva e não da hierarquia.

  7. Seth, A. K. (2021). Being You. Penguin Press.
    → Corrobora a interocepção como fundamento biológico da experiência de “ser”.


Síntese Brain Bee:
Os Umbus não acreditavam — eles confiavam.
A fé era o gesto certo, a sinapse exata, o silêncio entre o impulso e o sentido.
E nesse silêncio elétrico, talvez tenhamos nascido todos: corpo, mente e Terra em perfeita sincronia.



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Jackson Cionek

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